05 dezembro, 2010

Opinião, em 04/12/2010


Campina Grande, Paraíba, 4 de dezembro de 2010

O abandono da educação de base

Mário Araújo Filho
Professor da UFCG


O movimento "Todos pela Educação" acaba de divulgar que a Paraíba é o segundo estado que menos investiu em Educação Básica no ano de 2009. O levantamento se baseia no gasto educacional por aluno/ano, e a Paraíba fica à frente apenas do estado da Bahia, "campeão" brasileiro de baixo investimento na Educação Básica, a qual abrange a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, e é de responsabilidade dos estados e dos municípios.

O presidente da Associação dos Professores de Licenciatura Plena (APLP-PB), professor Francisco Fernandes, declarou à imprensa que os investimentos por aluno estão diretamente ligados à qualidade de ensino. Esclareceu que "o valor gasto tem reflexo em tudo: estruturação da escola, condições de funcionamento, aquisição de material didático, investimento em capacitação e até mesmo no salário dos professores. Se o valor investido é baixo, a qualidade de ensino pode ser comprometida".

A Paraíba sofre com inúmeros problemas em diversas áreas: na saúde, na segurança pública, no transporte, na habitação, nos serviços públicos em geral. No entanto, esse indesejável "vice-campeonato" em descaso para com a Educação Básica, apontado pela pesquisa recém-divulgada, vem a ser, de longe, nosso mais grave problema. E se hoje não aparece com tanta nitidez quanto os demais - conquanto se trate de ferida exposta - é porque mais compromete nosso futuro do que nosso agora. Imediatistas alguns e outros, cegos, e mais outros que não querem ver, o desastre vai se desenhando desde já, não sendo necessário esperar muito.

Basta verificarmos a precária qualificação que deixa desempregados milhares de paraibanos mesmo quando há vagas para admissão imediata, na indústria e nos serviços. Dados do SINE - Sistema Nacional de Emprego já o revelam a exaustão. E é este já hoje um dos maiores problemas - não apenas do nosso Estado, mas de âmbito nacional - que obstaculam o nosso processo de desenvolvimento: a baixa capacitação da mão-de-obra disponível, o número de anos de escolaridade do trabalhador brasileiro muito abaixo do desejável.

E mais: o abandono da educação de base pelo poder público vai ter reflexo, fatalmente, na qualidade dos que chegam à universidade, os quais, pelas deficiências que trazem do Ensino Médio e dos níveis anteriores, irão engrossar as estatísticas de reprovação, desligamento e evasão das universidades. Ou, alternativamente, os cursos serão concluídos, mas as lacunas de formação serão carregadas vida profissional afora, com prejuízos à sociedade.

Os dados divulgados nacionalmente deixam a Paraíba na "lanterna" do apoio à educação de base, e deles deveríamos nos envergonhar mais - como cidadãos, políticos e administradores públicos. Orgulhamo-nos, justificadamente, da Paraíba e de Campina Grande, pelas nossas universidades, pela expansão do nosso ensino superior e pela nossa condição reconhecida de pólo científico e tecnológico. No entanto, lamentavelmente, a omissão é a tônica quando os dados revelam uma realidade educacional de abandono, e que pode vir a comprometer todo o edifício acadêmico e de Ciência & Tecnologia construído ao longo dos anos, com muito esforço, em nosso Estado.

Link

Nenhum comentário:

Postar um comentário